quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Ruptura

Há momentos em que é necessário oferecer o peito às balas. Um parlamento democrático que antecipa uma votação para evitar que coincida no tempo com uma manifestação é pior do que cobarde: é um parlamento que assume que teme o povo que se manifesta nas ruas, que abdica de diminuir a lendária «distância entre eleitores e eleitos» e que insulta o significado da própria democracia representativa. Há momentos em que é necessário aceitar mais do que a crítica ritualizada das formalidades parlamentares, e aguentar que a rua lá fora grite o contrário do que se está votar. E hoje não houve coragem para tanto.

O espectáculo de deputados em fuga da assembleia da República após uma votação apressada é um mau prenúncio para a democracia. Houve uma ruptura. Desceu-se um degrau. Espero que tenha sido apenas a actual maioria que o tenha descido, e não o próprio regime.


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