sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Revista de blogues (19/10/2012)

  • «(...) Um dos segredos da sobrevivência milenar da Igreja Católica é saber estar bem com o poder. E Portugal sabe até onde pode ir essa conivência. E como a doutrina social da Igreja se adapta facilmente, para a sua hierarquia (que não é a Igreja toda, note-se bem), aos constrangimentos dos jogos políticos. Na realidade, a destruição do Estado Social, que os ultraliberais levam a cabo - com o álibi da crise - é uma boa notícia para a Igreja. Pelo menos para os sectores da Igreja que põem o poder da instituição à frente dos direitos humanos e do bem-estar do seu rebanho. Há muitos factores que levaram a uma perda do poder eclesiástico na Europa. A existência do Estado Social não será o primeiro, mas não deve ser negligenciado. Porque ele substituiu uma função que a Igreja reservava para si. (...) A crise que vivemos na Europa tem uma vantagem para quem quer reforçar o poder social e político da Igreja: devolve-lhe a poderosa arma da caridade e atira milhões de desesperados para os seus bondosos braços. (...) a Igreja, todas elas, é um espaço de poder. Um espaço de poder que o Estado ameaça com as suas funções sociais. E o quotidiano social para o qual nos dirigimos é aquele em que a Igreja se move melhor. E ainda mais quando é o Estado que financia grande parte das suas obras. Há, no entanto, muitas desvantagens na troca da solidariedade institucionalizada pela caridade religiosa. Ela tem um preço: a compra da fé e da consciência. Ela tem um método: não depende da democracia. Ela tem uma hierarquia: o que recebe fica em dívida moral com o que dá. Ela tem uma condição: a perpetuação da pobreza como fonte de poder. Compreendo a esperança de D. Policarpo e o apelo ao conformismo e silêncio. Até agora só recebeu boas notícias. Apenas há um senão: a sociedade portuguesa é hoje muito diferente do que era há cinquenta anos. Nem o poder que a Igreja perdeu será facilmente readquirido nem os católicos são hoje tão obedientes como eram no passado. (...)» (Daniel Oliveira)

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